
Era no tempo do rei
Rio de Janeiro na romance de Manuel Antônio de Almeida
Memórias de um sargento de milícias
O jovem escritor brasileiro Manuel Antônio de Almeida publicou o primeiro capítulo de Memórias de um Sargento de Milícias em 1852.
O romance como o conhecemos hoje em dia foi originalmente publicado em séries semanais no jornal Correio Mercantil. O primeiro capítulo pode ser visto primeira coluna da página principal, na edição de sábado do dia de 27 de julho. O segundo capítulo foi publicado uma semana depois.
Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (Rio de Janeiro) Ano 1852\Edição 00178
“Era no tempo do rei”
Essa é a frase que abre o romance e prepara o cenário para os personagens fictícios que percorrem as ruas, praças, igrejas e bairros do Rio de Janeiro.
Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (Rio de Janeiro) Ano 1852\Edição 00178
O tempo do rei?
Quando Napoleão estava prestes a invadir Portugal em 1807, o príncipe regente de Portugal, Dom João VI, decidiu mudar toda a sua corte para a capital de sua colônia mais próspera, o Brasil. A marinha britânica escoltou a viagem dos portugueses, que incluía toda a família real, cortesãos, oficiais da realeza e muitos outros membros da sociedade lisboeta, como padres, advogados, juízes e comerciantes. Eles chegaram no Brasil em 1808.
O Rio era uma capital colonial pequena e compacta quando a corte portuguesa chegou por ali. Governando no lugar de sua mãe que era idosa e mentalmente instável, a rainha Maria 1. Assim que o príncipe regente chegou abriu os portos do Rio de Janeiro para o comércio internacional, suspendeu a proibição para a existência de fábricas, estabeleceu uma imprensa real e ordenou que a cidade fosse inspecionada. O mapa encomendado pelo príncipe regente em 1808, foi publicado pela primeira vez no Brasil em 1812. Uma segunda versão menor, baseada no mapa original, apareceu em 1817.
Planta da Cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, 1817. Biblioteca Nacional de Portugal.
As principais instituições do governo real logo começaram a funcionar. A partir de então como centro do império português e com os portos abertos para os navios de todas as nações, a cidade passou a crescer. O café começou a ser plantado nos morros da cidade, e o Rio de Janeiro foi transformado para acomodar os muitos e novos moradores. Apesar da condenação do comércio de escravos pelos abolicionistas, os traficantes abarrotaram a cidade de escravos por meio de tumbeiros envolvidos no comércio transatlântico de escravizados entre o Rio e a África Central do Sul.
Rugendas, Débarquement, in Malerische Reise in Brasilien.
Quando os imigrantes portugueses chegaram encontraram novas oportunidades. A cidade abrigava pequenas comunidades de cidadãos britânicos, franceses, alemães, austríacos e outros europeus. Entre eles, havia um grupo de artistas fascinados pelo clima, pelo cenário e pelos povos do Rio de Janeiro.
Os artistas que visitaram o Rio, conhecidos como “viajantes”, chegaram com delegações diplomáticas, científicas e artísticas e registraram suas impressões da vida na cidade em esboços e aquarelas, muitas das quais foram publicadas como litografias a partir das décadas de 1830 e 1840.
Jean Baptiste Debret
C.F, J. B. Debret, 1832 in Voyage pittoresque et historique
Jean Baptiste Debret chegou no Rio em 1816 com a Missão Artística Francesa. Aluno talentoso de David, o grande pintor da Revolução Francesa, Debret trabalhou em expedições da corte real, pintou retratos e projetou palcos para festivais reais. No Rio, Debret lecionou e também ajudou a criar o primeiro instituto de artes. Ele também fez esboços de cenas cotidianas da cidade, que mais tarde foram publicadas em Paris, na década de 1830. O trabalho é intitulado Voyage pittoresque et historique au Brésil, ou séjour d'un artiste français au Brésil 3 vols Paris: 1834-1839) e foi publicado em três volumes pela famosa editora Firmin-Didot Frères entre 1834-1839.
Johann Moritz Rugendas
Juan Mauricio Rugendas, autoretrato. Biblioteca Nacional Digital de Chile
Johann Moritz Rugendas (1802-1858) chegou no Brasil em 1822. Nascido de uma família de artistas em Augsburg na Alemanha, Rugendas ingressou na expedição científica de Georg Heinrich Freiherr von Langsdorff como um ilustrador. A expedição financiada pela Rússia, viajou pelo interior do Brasil, visitando lugares como Minas Gerais e São Paulo, e depois de deixar a expedição, Rigendas viajou por Pernambuco, Mato Grosso, e Bahia. Rugendas documentou o seu tempo no rio em esboços, aquarelas e pinturas.
Rugendas voltou para a Europa alguns anos depois e publicou Malerische Reise in Brasilien, que foi publicado ao mesmo tempo em Paris, na França, como as Voyage pittoresque dans le Brésil / par Maurice Rugendas (Paris: Engleman, 1835)
Depois disso, ele voltou ao continente americano em 1830, e viajou bastante antes de voltar para a Europa em 1847.
Thomas Ender
Friedrich von Amerling, Retrato de Thomas Ender, 1831, Belvedere Museum, Vienna
Thomas Ender chegou no Brasil em 1817 junto dos naturalistas Carl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist Spix. Essa expedição científica foi financiada pelo rei Maximilian Joseph I da Bavária, cuja filha, Caroline Josepha Leopoldine von Habsburg-Lothringen (conhecida como Carlota Joaquina), havia ido para o Rio de Janeiro para se casar com Dom Pedro de Alcântara. Dom Pedro - o filho do rei João VI - foi coroado príncipe e era quem então comandava do Rio de Janeiro, Portugal e seu império.
Durante aproximadamente os dez meses que passou no Brasil, Ender fez cerca de 600 esboços de desenhos e paisagens, a maioria sobre seu tempo no Rio de Janeiro. Suas aquarelas originais estão em Viena na Kupferstichkabinett, Akademie der Bildenden Künste. A edição em três volumes de Viagem ao Brasil nas aquarelas de Thomas Ender: 1817-1818, foi publicada em 2000, e serve como um catálogo das aquarelas. A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro também possui um pequeno volume de esboços da sua viagem.
Bibliografia
Abreu, Martha. “Popular Culture, Power Relations and Urban Discipline: The Festival of the Holy Spirit in Nineteenth-Century Rio de Janeiro.” Bulletin of Latin American Research 24, no. 2 (2005): 167–80.
Bretas, Marcos Luiz. “Police and Prosecution in Rio de Janeiro.” IAHCCJ Bulletin, no. 18 (1993): 143–151.
Curtis, James R. “Praças, Place, and Public Life in Urban Brazil.” Geographical Review 90, no. 4 (2000): 475–92.
Debret, Jean Baptiste. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil [...]. 3 vols. Paris: Firmin-Didot Frères, 1834-1839.
________. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil [...]. 3 vols. Paris: 1834-1839; prt. Rio de Janeiro & New York: Distribuidora Record; Continental News, 1965.
Frank, Zephyr L. Dutra’s World: Wealth and Family in Nineteenth-Century Rio de Janeiro. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2004.
Graham, Sandra Lauderdale. House and Street: The Domestic World of Servants and Masters in Nineteenth-Century Rio de Janeiro. Austin: University of Texas Press, 1991.
Juan Mauricio Rugendas Letters (MS 271). Special Collections and University Archives, University of Massachusetts Amherst Libraries.
Karasch, Mary C. Slave Life in Rio de Janeiro, 1808-1850. Princeton: Princeton University Press, 1987.
Kraay, Hendrik. Days of National Festivity in Rio de Janeiro, Brazil, 1823-1889. Stanford: Stanford University Press, 2013.
Manchester, Alan K. “The Growth of Bureaucracy in Brazil, 1808-1821.” Journal of Latin American Studies 4, no. 1 (1972): 77–83.
Metcalf, Alida C. “Water and Social Space: Using Georeferenced Maps and Geocoded Images to Enrich the History of Rio de Janeiro’s Fountains.” E-Perimetron 9, no. 3 (2014): 129–45.
O’Neil, Thomas. A Concise and Accurate Account of the Proceedings of the Squadron under the Command of Rear Admiral Sir Will. Sidney Smith, K.C., in Effecting the Escape, and Escorting the Royal Family of Portugal to the Brazils, on the 29th of November, 1807. London: Printed by R. Edwards for the author, 1809.
Pinheiro, Augusto Ivan, and Vicente del Rei Rio. “Cultural Corridor: A Preservation District in Downtown Rio de Janeiro, Brazil.” Traditional Dwellings and Settlements Review 4, no. 2 (1993): 51–64.
Ramos, Donald. “Gossip, Scandal and Popular Culture in Golden Age Brazil.” Journal of Social History, 33 no. 4 (2000): 887-912.
Rugendas, Johann Moritz. Das merkwürdigste aus der malerischen Reise in Brasilien. Schaffhausen: J. Brodtmann´s lithographischen Kunst-Anstalt, 1836.
________. Malerische Reise in Brasilien. Paris: 1836; rpt. Stuttgart: Daco-Verlag Blase, 1986.
Santos, Martha S. “Recreating Patriarchy in Northeast Brazil: Widows, Property Rights, and Gender Inequality in the Backlands of Ceará, 1845-1889.” Luso-Brazilian Review, 51, no. 2 (2014): 150–169.
Schultz, Kirsten. “Royal Authority, Empire and the Critique of Colonialism: Political Discourse in Rio de Janeiro (1808-1821).” Luso-Brazilian Review 37, no. 2 (2000): 7–31.
________. Tropical Versailles: Empire, Monarchy, and the Portuguese Royal Court in Rio de Janeiro, 1808-1821. New York: Routledge, 2001.
Wagner, Robert, Júlio Bandeira, and Thomas Ender. Viagem Ao Brasil nas Aquarelas de Thomas Ender: 1817-1818. 3 vols. Petrópolis: Kapa Editorial, 2000.